segunda-feira, 30 de março de 2009

Domingo de tédio

Sabem como é naqueles dias em que acordamos com os pés de fora e só nos apetece mandar vir com tudo o que nos aparece à frente? Pois bem, hoje acordei assim. Tudo na minha casa parecia existir parra me arreliar. Decidi então ir dar uma volta depois de almoço. Pus-me a andar, andar… sempre mergulhado nos meus pensamentos mais profundos e filosóficos como por exemplo: epá já comia qualquer coisa. Quando dei conta já estava no parque da Amora, aquele lá em baixo junto ao rio e sentei-me naqueles blocos de pedra que as pessoas usam como bancos. Do outro lado do rio, aí a uns quatrocentos ou quinhentos metros (perdoem-me a minha péssima noção de distância) avisto o Seixal e a Arrentela. E se deslocar a minha visão ainda mais longe consigo ver Lisboa lá muito ao fundo. Mas vamos prestar atenção ao que está mais perto porque um Homem não deve querer mais do que o seu nariz consegue cheirar. À minha frente passa num triciclo uma menina que não lhe dou mais de cinco anos e atrás vêm os pais de mãos dadas, os avós no mesmo e o irmão mais velho que já deve estar na casa dos dez. Dava um quadro engraçado aquela família a passear ao domingo no parque, as crianças sorridentes e a brincar, os casais de mãos dadas e com uma cara alegre, tudo num mar de alegria como se não fossem uma família disfuncional. Escondem bem, escondem! Por detrás daqueles sorrisos estão uma carrada de problemas que geram discussões e discussões que geram problemas. Enfim… por quanto tempo mais irão fingir serem uma família perfeita? A minha visão move-se ao ritmo do meu olfacto quando um miúdo se senta ao meu lado a comer um pacote de bolachas. Toda a minha boca é um dilúvio de baba por tanto desejar uma daquelas deliciosas bolachas com recheio de chocolate. Ai se eu adoro chocolate! A minha grande paixão, ou segunda grande paixão que paixões há muitas mas só uma é que é a maior, e a minha maior paixão não se encontrava de corpo ali embora estivesse presente no meu pensamento. Já os meus olhos apontavam para as escassas nuvens que rastejavam pelo céu quando senti um toque no braço, era o miúdo a oferecer-me uma bolacha. Sorri e aceitei. Depois de comer a bolacha perguntei ao cachopo pelos pais dele, ao que ele respondeu: estão a trabalhar, eu encontrei um euro atrás do sofá e vim comprar um pacote de bolachas. Ao dizer-me aquilo pensei em como aquele miúdo tinha tantas coisas em comum comigo. Levei a mão ao bolso e tirei uma moeda de um euro e dei-lha. Ele agradeceu e foi-se embora. Eu também me fui para casa e para a minha plácida vida.

Hum… hum… o personagem principal volta à sua rotina habitual… hum… cheira-me a final da história. É neste momento que o leitor(a) se põe a pensar: “Mas que raio quer ele dizer com tudo isto? Uma família que finge ser feliz para esconder os problemas? Um miúdo vindo do nada que por ser generoso foi recompensado com mais do que teria se tivesse sido egoísta? Qual será a moral desta história?”. Pois bem, não faço a mínima ideia.


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quinta-feira, 26 de março de 2009

O Génio da Lâmpada (parte 5)

“Ainda os meus olhos estão cerrados pelo sono quando oiço o barulho vindo do televisor. É um desses desenhos animados japoneses com aqueles bonecos inexpressivos que guincham por tudo e por nada e onde tudo é um drama e levam dez episódios para andarem dois passos. Já para não falar daquelas estranhas gotas que escorrem pela testa nas partes “cómicas” que não têm graça nenhuma, e pergunto: mas que raio são essas gotas? Suor? Água? Ranho? (já nada me espanta!) E como se não bastasse metem aquilo em japonês e temos de ler a porcaria das legendas que só estragam (se fosse falado em inglês ainda escapava...).” – pensava o Génio. Quando este finalmente abriu os olhos deparou-se com uma criatura à sua frente que assistia a esses mesmos desenhos animados enquanto soltava gargalhadas de magnitude 11 na escala de Richter. Tinha um aspecto um pouco invulgar, ombros descaídos alegóricos ao seu desmazelo, uma barriga um pouco saliente, um cabelo seboso, uma camisola com manchas de lixívia, umas calças “a fugir à polícia” que dava para ver a meia branca cheia de carrapetas, não esquecendo uns óculos quadrados que os anos 70 já ligaram a pedir de volta. Nisto o Génio pergunta-lhe se viu para onde a rapariga tinha ido ao que ele responde com uma “coisa” em japonês que eu não digo em prol da integridade física do meu teclado e da personagem em questão. O génio, já fulo, levanta-se voltando a cair até se levantar novamente e ir procurar a rapariga. Não a encontrava em lugar nenhum e aflito gritou por ela mas não houve resposta. Continuou procurando por tudo quanto era canto, mas sem sucesso. Desesperado saiu à rua e viu ao longe uma pessoa mascarada a carregar a rapariga às costas. Viu também que a rapariga estava inconsciente e amordaçada. Que irá fazer o Génio? Terá ajuda? Quem e para onde levam a rapariga?...

Continua...


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quarta-feira, 4 de março de 2009

O Génio da Lâmpada (parte 4)

Chovia a potes de plástico (porque os de barro podem-se partir) e estava daqueles ventinhos irritantes que nos empurram para trás e incham a nossa roupa fazendo-nos parecer com bonecos insufláveis, tipo a mascote da Michelin. Aqueles ventos de final de Inverno que são uma espécie de amostra grátis de furacão, como as amostras de pedacinhos de queijo que espetam um palito e oferecem nos supermercados com a esperança de que o consumidor atinja o Nirvana e compre uma embalagem para levar para casa. Esses ventos são isso mesmo, pegam num furacão, cortam-no aos pedacinhos, espetam um palito e já está… um ventinho de final de Inverno. Sim, porque se mandam para cá um Katrina ou um El Niño lá se vai a ponte e o comboio da Fertagus. No meio disto tudo encontramos a rapariga e o génio sentados ao lado um do outro à espera que a chuva pare. Foi então que se iniciou um diálogo interessantíssimo sobre amor… paixão… agricultura… e previsão meteorológica:

Génio – Está a chover.
Rapariga – Pois…
G – Ai ai…
R – Ui ui!
G – Ainda por cima é água.
R – E é vá lá… húmida.
G – E quando nos cai em cima ficamos com aquela sensação… ora tu sabes.
R – Húmidos.
G – Não. É mais do tipo… molhados.
R – Como se não bastasse está cá um vento…
G – Mas repara que a época das melancias é só no Verão.
R – E vê lá tu que há quem se vista de verde no Inverno!
G – Como?! Se ainda ontem comi morangos.
R – Sabes uma coisa?
G – Sei várias mas diz lá.
R – Eu amo-te.
(o génio faz uma cara de parvo)
G – Invoca-me!
R – Mesmo com as melancias e os morangos… mesmo que esteja a chover água molhada… eu amo-te e invoco-te!

Nisto abraçam-se os dois, ele a ela e ela a ele. A chuva pára mas continuam abraçados. Ela encosta a cabeça ao peito dele e ele segura na mão dela e assim adormecem os dois. Até que, horas depois, são acordados por uma pessoa muito peculiar. Quem será esta nova personagem?

Continua...


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