segunda-feira, 27 de julho de 2009

Saúde e (pa)Ciência

Qual o pior sítio para se estar na manhã de um dia de semana? Num centro de saúde! Os conflitos entre a Índia e o Paquistão no Bangladesh não são nada comparados com a sala de espera onde multidões aguardam serem chamados por um altifalante que mal se ouve no meio de crianças inquietas e mães iradas. Isto testemunhei eu em primeira pessoa quando fui ao Centro de Saúde da Amora para a médica preencher o atestado médico para iniciar as aulas de Código.

Comecei por tirar uma senha para a marcação de consulta e confesso que até foi mais rápido do que pensei mas depois quando fui para o outro lado do corredor esperar pela chamada é que tudo começou. Dizem os sábios e os que julgam saber que o tempo médio de concentração de um humano adulto é de cerca de 20 minutos. Mas na sala de espera do Centro excede-se os limites humanos pois tenho de estar 100% concentrado durante várias horas para ouvir a chamada que mais parece que estão a contar um segredo do que a chamar alguém. Depois há aquelas mães que levam os cinco filhos apesar de apenas um estar doente e os outros ficam por ali a correr e a gritar. Há também aquelas mulheres com filhos ainda pequenos que choram até ficar sem ar nos pulmões. Deve ser genético pois muitas vezes os gritos da mãe com as enfermeiras e auxiliares são facilmente confundidos com os berros do petiz. Já para não falar nas pessoas que tentam passar à frente dos outros mas que na eventualidade da sua tentativa falhar começam a reclamar para si próprios e a dizer mal do sistema que eles tentaram corromper, tudo em voz alta para todos ouvirem. Ah já me ia esquecendo do velhinho que já passou por mim cinco vezes a perguntar a mesma coisa e que fica ali a contar-me a história da vida dele como se naquele momento o que mais me interessava era o facto de ele ter feito a tropa em Angola.

Ao fim de duas horas e no meio de miúdos a correr, bebés a chorar, mães iradas aos gritos, usurpadores de lugares na fila, velhinhos nostálgicos e com falta de memória fui finalmente chamado, não pelo altifalante mas pela médica que veio ao corredor chamar-me.



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